"Insistir, Persistir, Nunca Desistir" – Cláudio Clarindo

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BRM200 – Campos do Jordão – Audax Randonneurs São Paulo

Mesmo num calendário maluco que aprontei no final deste ano de 2017, após todos os finais de semana ter algo pra fazer, seja corrida de rua (10km no Circuito das Estações, e 18km na XIX Volta Internacional da Pampulha), encaixei dois BRMs de 200km no meio (BH e Campos do Jordão). O BRM200 de Campos do Jordão, quando anunciado para o dia 09 de Dezembro mexeu comigo no mesmo instante pois não poderia faltar – por dois motivos: nunca participei desta prova na minha cidade natal, e o mais importante era o fato de ser aniversário do meu pai (e eu estava com saudades dele)!!! E logo fiz a inscrição e a preparação para a viagem, afinal, de BH até Campos do Jordão é estrada que não acaba nunca!!!

Como de praxe, na semana que antecede a prova, fiz um giro bacana com o amigo Wellington, que sempre me ajuda e acompanha nas subidas de Anel Rodoviário e BR040, no nosso tradicional bate e volta até o Trevo de Ouro Preto (Alphaville). E claro, na sequência deixei a minha Roubaix na Tripp Aventura (nas mãos do sempre solícito e amigo Ernane – pode confiar sua bike nas mãos dele: recomendo)!!! E lá mesmo na loja comprei os itens faltantes da minha lista: segundo farol traseiro, nova garrafinha de água, aqueles sachês de carboidratos em gel, e o isotônico em pó; de rebarba ainda arrisquei e comprei um novo óculos de ciclista, daqueles que a gente sonha em ter, e um dia assume o risco!!!

Naquela história de onde ficar, resolvi não arriscar, e reservei um quarto na Pousada Venezia em Santo Antônio do Pinhal/SP, pois a largada e chegada seria dada nesta pacata e charmosa cidade no meio da Serra da Mantiqueira. Tratei de organizar tudo para que realmente nada faltasse, afinal, minha esposa iria comigo nesta viagem, onde eu pedalo e ela passeia pela cidade…

Na quinta-feira, a minha correria de sempre, buscar a Roubaix, fazer as malas (e aqui entra aquele dilema de qual será o uniforme que irei usar, mesmo levando 3 opções), carregar os eletrônicos e o meu celular (que agora a bateria não aguenta realmente nada), “comida” de ciclista, e demais acessórios para a magrela aguentar o magrelo pedalando!!! E não é que antes de fechar tudo, lendo o regulamento da galera paulista, e vendo as fotos descubro que aquela luz traseira que comprei não poderia ser usada!?!?!? E por volta das 18h00 pré-feriado eu saio correndo atrás de uma que eu realmente pudesse usar na prova, e nada, nem com a ajuda do meu querido amigo Luiz (Calanguinho) que se esforçou pra me ajudar – e acabei levando uma bolsinha para proteger o celular de água da chuva!!!! Mas enfim, decidi procurar em Santo Antônio…

Como na sexta-feira que antecedia a prova foi feriado em BH, saímos bem cedo, debaixo de muuuuuita água, praticamente a viagem toda caiu água!!! E aquela dor no coração em saber que a bike recém revisada está ali em cima do carro, tomando água de novo, com a sujeira que a estrada deixa encrustada no quadro e componentes e ahhhhh – deixa pra lá!!!!

Tudo certo, chegamos bem em Santo Antônio do Pinhal, no meio da tarde, depois de 06 horas de viagem, lá fomos até a Pousada Venezia, onde fomos bem recebidos, e pegamos a chave para o quarto para descermos todos o material!!! Assim que terminamos, rumamos para São José dos Campos bem rapidinho para procurar a luz traseira que eu precisava, e só uma loja vinha em mente: Gamaia!!! E lá encontramos o que eu precisava – feito isso: volta pra Serra!!! No caminho uma nota triste: um gravíssimo acidente aos pés da Serra de Campos, logo após o Posto da Polícia Rodoviária, onde um carro bateu de frente com um ônibus – infelizmente a notícia foi a de que o motorista do carro faleceu no local.

De volta a Santo Antônio, à Pousada foi hora de deixar algumas coisas preparadas para o dia seguinte, tomar um bom banho e partir pra comer algo!!! Fomos até o Varandas, onde de cara vimos muitos ciclistas reunidos, e até alguns rostos conhecidos!!! Lá fomos nós comer um bom e velho X-Salada Egg (invertido mesmo) – eu queria macarrão, mas dessa vez não tinha… Vieram nos cumprimentar os bons e conhecidos Raniel e Miguel (que dupla bacana), lembrando deles do meu primeiro brevet em Brotas/SP – tempos bons!!! Lanche feito, então era hora de voltar para a Pousada para uma boa noite de descanso…

Dia D, Sábado, 09 de Dezembro de 2017, e realmente bem cedo já estava acordado (05h00) para a prova que tanto esperava. A vantagem de se hospedar em Santo Antônio do Pinhal foi de poder deixar o carro e ir pedalando para a largada. Ainda na Pousada teve a hora do café da manhã, com a galera reunida trocando idéias bacanas, e o que eu sempre achei interessante nesse tipo de prova é que cada um tem algo para acrescentar nessas idas e vindas de Randonneur: sempre é possível peneirar coisas muito boas!!! E pronto: hora de ir pedalando para a vistoria, escutar o briefing da organização, e largar para os 200km!!!

Encontros bem legais antes da partida para os 200km, e um especial: o amigo Ronaldo Figueiredo, de Varginha/MG, um grande ciclista que admiro – pouco antes de sairmos veio me cumprimentar, aí é aquela história de sempre: só o vejo na largada pois o seu pedal está em outro nível – top demais!!!

Bom, de início um retorno feito no centro de Santo Antônio do Pinhal, e de cara, numa das saídas da cidade algo que eu temia e aconteceu: uma parede pra subir pedalando!!! Me recordo que anos atrás fui subir esse mesmo trecho e tive que colocar os pés no chão, respirar fundo pois os batimentos estavam quase 200 – e a pressão quase caiu – na época percebi o quanto eu precisava treinar mais… Mas dessa vez, subi de boas, junto com a galera e sem problemas – gostei!!! Lembrando que após toda subida, há uma descida (e vice-versa), e essa era um pouco perigosa para os desconhecidos – mas os freios a disco são uma benção para qualquer randonneur (vale a pena mesmo), ainda mais que em certas curvas havia aquele resto de chuva, poças de água e galhos/folhas que caem, o que são grande perigo também… Quando chegamos a SP-050 (Estrada de Monteiro Lobato) era só manter um ritmo confortável para quando chegarmos no Trevo “Sul de Minas” era para dobrar á direita sentido/destino São Bento do Sapucaí/SP!!! O acostamento estava bom neste trecho, passando por Sapucaí Mirim/MG (onde tem um posto BR com um excelente pão-com-linguiça)!!! Pedalamos até o PC1 (Auto Posto São Bento do Sapucaí), no trevo de entrada para a cidade – (32km pedalados) às 08h15min: momento de enfrentar a fila para carimbar o passaporte, encher as garrafinhas, comer umas frutas, rever outros amigos e seguir em frente. Por incrível que pareça, aquele mimimi inicial da quantidade de provas, chegou mais cedo do que eu imaginava, afinal, o incômodo de ter feito a Volta da Pampulha apareceu logo depois do PC1: dores na parte traseira do joelho – e o negócio foi reduzir o ritmo e trabalhar com a perna que estava boa.

Como cresci na região, já sabendo do que vinha pela frente nem forcei mesmo, afinal, após o Trevo “Sul de Minas”, virando a direita com destino à Monteiro Lobato/SP, sabia que a sublinha ali seria longa e constante e agradável e tudo mais de bom (desculpas pela falta de vírgulas, pois leia como se eu estivesse falando empolgado)!!! Lembram do subir que logo tem descida!?!? Pois bem, uma longa e prazeirosa descida até o planalto para chegar em Monteiro Lobato!!! E já com 74km nas pernas, a entrada à direita na Praça Comendador Freire com destino a um lugar que sempre esteve na minha lista de viagens: o distrito de São Francisco Xavier!!!! Um subida interminável pra chegar até lá pela SP-027, e com pouco mais de 90 quilômetros chego ao PC2 na Praça Cônego Antônio Menzi, onde muitos ciclistas estão se refrescando e abastecendo suas garrafinhas, e mais comida e frutas!!! Cheguei neste PC2 às 10h57min – um tempo bom, se considerando as leves dores que tenho enfrentado!!!

Hora de voltar pelo mesmo caminho em busca do PC3 pouco antes da subida da Serra Velha de Campos do Jordão!!! Mas antes não posso deixar de citar a melhor coxinha de frango que comi até então, em Monteiro Lobato, no cruzamento onde viramos a caminho de SFX, num Bar deste mesmo cruzamento o meu almoço: duas coxinhas e uma Coca-Cola!!! Inesquecível!!! Se não me engano, no L’Étape Brasil de 2018, podemos passar por ali novamente!!! Mas vamos em frente, pois já coloquei o carro na frente dos bois!!! A volta tem a subida dessa serra de São Francisco Xavier, onde pequenos grupos de ciclistas de formavam e desmanchavam, mas era bacana ver o esforço de todos, e nesse caminho rumo à Campos, essa seria (em extensão) uma das 3 escaladas a cumprir!!! E logo nessa primeira, a minha magrela, mesmo revisada começou a estalar, e eu não sabia se era no Movimento Central (e/ou pedal), ou se era no conjunto traseiro (disco do freio ou catracas/corrente) – um dilema, mas vamos em frente!!! Vencida a primeira escalada, uma ótima descida, tentando adotar as técnicas do Nibali (até parece!!!), cheguei ao momento coxinha (almoço já citado), e em direção à segunda escalada, a serrinha de Monteiro Lobato!!! Essa subida foi prazeirosa e ao mesmo tempo desgastante, pois aquela previsão de chuva na parte da tarde da prova não aconteceu, e sim o contrário: um sol pra cada ciclista!!! Haja hidratação, reposição de sais, forças pra seguir em frente e os incentivos de que ultrapassava um ao outro na estrada… Só tenho a agradecer aos amigos que encontramos nas estradas, e um deles em especial: Xandão Miller (de Campinas – RFBC (se não me engano)) – até me ofereceu protetor solar!!! Lembramos que estávamos no meu primeiro BRM200 em Brotas em 2015: debaixo de toda aquela chuva!!! Muito obrigado Xandão!!! E no pedal que segue, naquele calor que não tinha fim, um Oásis!!! Até cheguei ao local falando isso: vocês encontraram um Oásis para os ciclistas que lá estavam, se banhando na queda d’água!!! Eu mesmo me molhei todo, enchi as garrafinhas (que estavam vazias naquele instante), molhei a toquinha, respirei fundo e partiu rumo ao PC3!!! Claro: mais um pouquinho de escalada e depois uma das descidas mais bacanas que vi/fiz/pedalei – dava pra ver um belo horizonte durante essa descida, e quase toda a estrada visível: espetacular!!! E nos variados graus de dificuldade, com dores, bike estalando, sobe e desce da estrada SP-050, enfim, chego ao PC3, no Bar do Pedro, onde de imediato peço um Gatorade, e vejo a manga da minha camisa já com sinais de sal – afinal, já eram 150 quilômetros pedalados e os sinais de desgaste ficam ainda mais visíveis. Essa parada após o carimbo no passaporte às 14h47min, sentei pra descansar e planejar o que viria pela frente: a Serra Velha de Campos!!! De praxe: o abastecimento feito, comilança de frutas e salgados!!! E claro: um oi e tchau para os amigos ciclistas e galera da organização!!!

Bora-Bora-Bora, pois agora teremos quase 13km de subida na terceira e última grande subida – aliás: a maior de todas elas!!! Em direção à minha cidade natal: Campos do Jordão!!! Como eu estava com os mimimis previamente calculados, a medida que se eu sentisse dores eu pararia pra alongar, relaxar um pouco e voltar a subir, portanto, nessa subida foram essencialmente uma meia dúzia de paradas, sendo algumas para aliviar as dores no joelho, e outras para comer e se hidratar sem pedalar – foi importante pois consegui nessas condições não ter câimbras fortes, apenas aquelas ameaças que quando vem fazemos o contraponto, revertendo a situação e aliviando em seguida – mas são sinais importantes que nessas horas pedem cautela!!! A Serra Velha de Campos do Jordão pra mim é bem especial, pois quando criança viajava por ela para visitar os meus avós em Brazópolis/MG, meu pai sempre fazia esse caminho, por ser o mais curto e mais bonito (acredito eu) – apesar das curvas!!! Esse trecho remetia mesmo à minha infância e ali trato com muito carinho o contato com a natureza que é o meu berço. As árvores, as sombras gratuitas, o som de pássaros, as pessoas simples que por ali moram e nosso sotaque tão característico, exemplo: quando nos perguntam onde nasceu, a resposta: “-Em Canjordannn!!! Maiscresci em Brazópis!!!” – e aqui explico o porquê de ser “mineiro” de Campos do Jordão!!! Oh vida boa tem nessa terra viu!!! No topo da Serra, com quase 170km, quem não tirou deveria ter tirado uma foto em frente à placa de “Bem-vindo à Campos do Jordão” (#FicaADica) – é uma conquista, podem acreditar!!!! Na sequencia uma boa descida pelo bairro Santa Cruz (Dica: ao final dessa descida fica a fábrica da Cervejaria Baden Baden)!!! E claro, agora o destino era chegar ao PC4 em Capivari, passando pela Abernéssia e seu trânsito, assim como em Jaguaribe e mais trânsito (afinal, era Sábado: dia de turistas na cidade). E a nota triste que senti ao pedalar pelas ruas de Campos do Jordão, além do comportamento de certos motoristas (o que não é novidade em qualquer lugar do país), as ruas mal cuidadas, repletas de ondulações, trincas e buracos – não se engane mas até há no Strava um segmento chamado “Mais Cratera que Na Lua”!!!! A cidade merece mais cuidados pela Prefeitura, pois sempre recebe muitos visitantes, e esse foi um comentário que fiz ao meu pai na ocasião, a população e a cidade merecem esse cuidado!!! Mas enfim, cansado cheguei ao PC4, às 17h02min!!! Enchi a barriga de paçoquinha e água!!! Cumprimentei quem ali estava, carimbei o passaporte sem perder muito tempo e parti para o destino final: Santo Antonio do Pinhal/SP, descendo pela Serra Nova!!! Mas antes a tradicional fotografia em frente ao Portal de Campos – tradicional!!!

A descida da Serra Nova de Campos é uma delícia, sem contratempos, aliviando qualquer dor existente, bem de boas mesmo, passando direto pelo mirante da serra, que estava cheia de turistas, fui até o viaduto de acesso à Santo Antônio… Que nos “presenteava” com um esforço final naquela rampa de média de 13% de inclinação em 600 metros!!! Depois: descida até a chegada, tendo que atravessar toda a cidade pacata de Santo Antônio!!! Feliz pra caramba, às 18h11min eu chegava ao destino final após completar os 200km dessa prova que eu sempre quis fazer!!! Lá estavam o pessoal da organização parabenizando a todos que chegavam, entregando Certificados e Medalhas!!! Todos com sorrisos por completarem a prova!!! O meu tempo global (considerando as paradas) de 11h11min ficou dentro das minhas expectativas, pois em certos momentos da prova a vontade de desistir aparece, a sorte que ela perde para a vontade de insistir. Como diria o querido amigo que nos protege lá do alto, Cláudio Clarindo já dizia: “Insistir, Persistir, Nunca Desistir”, assim como, “Todas as Vitórias ocultam uma Renúncia” – fica a lição!!! Em falando desse mestre, senti muito a falta de alguns amigos da CLR Cycling Team, de Santos, os amigos Paulo Blade e Renato Ramos, entre outros… Mas espero vê-los em breve num desses pedais que a vida nos oferece!!! E claro: #SomosTodosCLRTeam!!!

Voltando pra Pousada, minha esposa na verdade estava me esperando num calçadão com mesinhas, onde pude me refrescar com uma cervejinha e duas empanadas argentinas!!! Ao lado, um grande grupo de ciclistas confraternizava, e todos felizes – que mais importa e ver isso nos olhares de cada um!!! Ao fundo, um grupo de músicos tocando boas músicas, que me impressionou foi o fato de tocarem Bob Dylan e Simon & Garfunkel em meio a outras canções boas!!! Tudo muito bom!!!

Agora pra finalizar, a sessão agradecimentos, afinal, dar suporte a quem pratica esse esporte tão duro é como se estivesse conosco na estrada pedalando!!! Primeiramente agradeço à minha esposa Beta, que mesmo achando loucura acredita que deixando eu pedalar sou mais feliz ao lado dela (e isso é verdade)!!! Ao pessoal da Tripp Aventura Bikeshop (representante Specialized), aqui em BH, onde confio aos amigos os cuidados que minha Roubaix – sempre atentos aos detalhes e cuidados nas revisões, sendo honestos e verdadeiros, sem enrolação: se tem problemas me avisam!!! Aos amigos que durante todo esse tempo me apoiam nos pedais da região metropolitana de Belo Horizontes, mesmo sabendo que não sou rápido, me ajudam a melhorar em alguns pontos o meu pedalar, e desta vez em especial o amigo Wellington Lima, que por morar perto de casa, nunca desiste em me ajudar com dicas e sair pedalando às 05h25min da manhã, subir Anel Rodoviário e pegar BR-040 junto ao pessoal do PelotonBH – valeu demais meu amigo!!! A Pousada Venezia em Santo Antônio do Pinhal, pela recepção e atenção nos dois dias que lá estivemos!!! À galera da Inconfidentes Pedalantes, por não desistirem e proporcionarem sempre aqueles brevets em Minas, e que servem de preparação para diversas outras provas!!! Claro: ao Audax Randonnuers São Paulo por mais uma vez deixarmos pedalar em uma das suas provas, que são bem desafiadoras, em regiões fantásticas do Estado de São Paulo!!! E a todos que de certa maneira, nas redes sociais, via mensagens ou telefonemas, manda aquele incentivo: o meu muitíssimo obrigado!!!

Valeu por tudo, por cada pedalada, cada gota de suor, cada dor que passou, cada amigo feito e reencontrado nesse caminho randonneur, autosuficiente, de pura dedicação e força real do hábito saudável que é o de pedalar e ser feliz!!! Assim seguirei, até o próximo desafio!!!

Um grande abraço a todos!!!

Sempre,

Alessandro Martins.